sexta-feira, 4 de julho de 2014

O começo de Tudo...



Essa é a história de Maria, minha filha, um bebê muito especial, amada e que de tão especial virou um anjo, que na minha opinião de pais, é o anjo mais iluminado do céu, e na minha opinião de pais, é também a mais valente. Maria era valente pois não foi fácil passar por tudo que ela passou, enfrentar cada dia como um novo e maravilhoso desafio e tenho certeza que para ela também não foi fácil ir embora e ficar longe do papai e da mamãe, que sempre lhe deram todo o amor que tinham, e o que nem sabiam que tinham também. Maria foi, e é AMOR.
Mas a história de Maria, que é AMOR, não podia ter nascido de forma diferente, nasceu do amor, de duas pessoas, que tentaram por quatro dolorosos anos ter um filho, lembro quando tomamos essa decisão, já era hora do nosso amor florescer, frutificar e decidimos engravidar. Pronto. Não foi bem assim. No início, achamos que era normal demorar tanto, até porque, Luciana tinah tomado anti concepcionais por muito tempo e talvez o corpo demorasse para se adapatar a essa nova realidade e se preparar. Mas o tempo passou e a gravidez não veio.
E esperamos, esperamos, esperamos mais ainda e nada. Esperávamos mês a mês não vir a menstruação, esperávamos mês a mês que o sonho acontecesse e foi por muitas vezes doloroso, porque contávamos os dias, às vezes, um dia que demorava já gerava toda a espectativa do mundo inteiro e a realização daquela vontade que naquele momento já era o desejo mais profundo de nossos corações. Mas nada mudou. Esse desejo passou a ser uma ansiedade sem fim, pensamentos que nos invadiam a mente e perguntas sem respostas. Porque não?
Sempre fomos católicos, iamos a nossa missa todos os domingos, rezavamos o terço e naquele momento pediamos muito a Deus essa graça, e é claro, questionavamos o porque. Eu pensava que sabia o que era ter fé, mas hoje, tenho plena consciência o quanto minha fé era pequena naquela época. Sabe aquela fé que você fala: Eu acredito, vai dar certo, vai acontecer. Mas no fundo você pergunta: Será? Acho que eu era assim. Depois acabei descobrindo que eu estava errado, e que Deus não estava me punindo e nem tão pouco não me ouvindo. Ele estava me preparando.
 Decidimos então, começar a fazer exames, porque começamos a pensar que isso não era normal, porque para tantas pessoas era fácil engravidar e para nós não estava sendo bem assim.  E em todos os exames os resultados foram normais. Para Luciana, que preciso dizer, foi um grande exemplo de fé e fortaleza para nós, e depois explico o por que, os exames eram ainda piores, alguns invasivos, e sempre o resultado era o mesmo: Normal.
Questionávamos a nossa incapacidade de ter filhos, de gerar uma vida, de constituirmos uma família e eu questionava a Deus porque tantas crianças eram abandonadas, abortadas, tiradas das famílias, rejeitadas pelos pais; porque tantas crianças eram indesejadas e nós ali, querendo, desejando, ansiando por termos um filho e não conseguíamos. Me lembro de uma vez em que estava na missa no dia dos pais e via todas àquelas famílias juntas e felizes e eu me perguntava se eu também não teria essa oportunidade e essa graça, de ter um dia dos pais, sentir o carinho de uma filho, poder comemorar a vida. Hoje tenho plena convicção de que Deus sabe o momento certo de tudo acontecer em nossas vidas, pois imagino se naquela época, eu tivesse tido um filho como Maria, não sei se a amaria como amei e nem tão pouco suportaria tudo que passamos. Para Luciana, todas as missas, resultavam em choros, lágrimas, dor, pois ela se cobrava e às vezes culpava por não engravidar.
E os anos foram se passando. Um dia, a convite da minha mãe e de umas amigas dela, fizemos uma viagem à Cachoeira Paulista, no mês de junho, para participarmos de um acampamento, o acampamento do Sagrado Coração e foi maravilhoso tudo que vivemos lá, digo até que foi para mim um renascimento na fé, pois sai de lá renovado. Nessa viagem, conhecemos também Aparecida e pedimos muito também a ela que nos desse a graça de sermos pais. Quando visitamos a antiga basílica, você pode tocar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Luciana parou, tocou a imagem e me pediu para colocar minha mão também. Mais tarde ela me disse que hávia dito à Maria que no ano seguinte nós voltaríamos lá, mas dessa vez, seriam três mãos que tocariam a imagem, as nossas e a do nosso filho.
Nunca fui uma pessoas de tristezas ou de me entregar a amargura. Muitas vezes, a dor que sentia, ninguem sabia, e houve momentos em que chorava escondido pois não queria que a Luciana me visse assim, pois sabia que a cobrança só aumentaria, as expectativas seriam maiores e, como diziam os médicos, nós precisávamos relaxar. Como é que relaxa?
Viemos embora cheios de fé e amor de Deus e no mês seguinte, julho, novamente veio a decepção, não estávamos grávidos. Para mim a essa altura, o que mais me doia era ver a decepção e a dor da Luciana, que sempre chorava, todos os meses e nesse mês de Julho, sentamos e eu lhe disse para deixarmos essa história de filhos para lá. Se depois de tantos anos não havíamos engravidado, acho que não eram esses os planos de Deus para nós (Como eu não sabia de nada!) e que não deviamos mais focar nisso, ela estava prestes a defender o mestrado e eu, como sempre, em um rítmo alucinado de trabalho.  Vamos deixar para lá. Nada mais de contar dias, guardar datas, esperar, NÃO. Vamos viver. E assim fizemos.
Luciana defendeu o mestrado e eu havia ganhado uma viagem para os Estados Unidos e estava correndo de um lado para o outro para resolver tudo, tirar passaporte, visto, etc. e havia viajado para São Paulo. Nisso já estavamos mais ou menos no meio do mês de Agosto e como nossas cabeças estavam em pontos diferentes, Luciana no mestrado e eu na viagem, desta vez não contamos datas e nem dias , etambém porque havíamos combinado de não mais fazê-lo. No último dia da viagem, na quarta feira, acordei muito cedo e me deu um sentimento louco de voltar pra casa. Sendo que me voo era a noite, mas eu queria voltar pra casa já. Liguei na companhia aerea e a atendente me informou que eu podia ir até o aeroporto e tentar um encaixe em um voo mais cedo e que isso não me geraria custo algum. Assim o fiz e consegui um encaixe para o próximo voo. Liguei para Luciana e disse que estava indo para casa e ela disse: Vem amor. Nisso, nos dias anteriores ela me disse que havia sentido umas tonturas, só que depois de tanto tempo, sentir tonturas, enjoos, desejos, já faziam parte do nosso cotidiano, e isso não nos gerava mais expectativas. Pelo menos tentavamos que não gerasse. Então, achei que já era comum da época. Voltei pra casa. Com um desejo enorme de chegar e sem saber porque.
Desembarquei, e lá estavam, até então, as duas mulheres da minha vida, Luciana e minha mãe Socorro. Me aproximei, Luciana veio que seu sorriso lindo e me disse: “Amor, veio eu, tua mãe e mais uma pessoas te esperar”, e mostrou-me aquele par de sapatinhos vermelhos. Por um momento não acreditei no que estava acontecendo, como assim? Foi uma sensação que não sei descrever, misto de alegria, espanto, descrença, tudo junto. Abraçei Luciana e beijei e fiquei olhando para aquele par de sapatinhos, tão pequenos, sem acreditar. Parecia que estava fora de mim. Eu pensava comigo mesmo: “Sério? Depois de tanto tempo, não acredito”. Mas era verdade, a mais pura e bela verdade. Desta vez as tonturas era o anuncio da chegada da nossa pequena, do nosso amor, do nosso anjo e eu fiquei tão pleno que a única coisa eu conseguia fazer era rir, sorrir, de uma felicidade imensurável e dizer a Deus, muito obrigado Senhor. Fomos para casa e eu sabia que daquele momento em diante minha vida já não era mais a mesma, na verdade, minha vida já não me pertencia mais. Agora, havia um ser pequenininho, que estava começando a se desenvolver e que precisava de mim. Que finalmente nosso amor havia gerado o fruto mais maravilhoso de todos, a vida. 

A vontade que você tem em um momento desses é de gritar aos quatro cantos do mundo: “Eu vou ser pai”. Você quer dividir a sua alegria com todos, mas estavamos dividindo apenas com meus pais e com os pais e irmãos da Luciana, pois achamos melhor ter prudência. Era a primeira gravidez, aos 35 anos e não sabíamos como tudo iria trancorrer, se tudo iria dar realmente certo. Resolvemos então nos reservar até que tudo estivesse realmente bem.
 

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